"Descreve-me."-pediu-lhe ele. "Já que escreves tanto... escreve algo sobre mim..."
Ela ficou sem saber o que lhe dizer. Como iria ela fazer isso? Como poderia ela arranjar palavras para o descrever?
Sorriu e respondeu-lhe um "'tás parvo! Vou agora escrever sobre ti...! Pfff! Queres o quê? A cor do cabelo... dos olhos..."
Mas ele não quis saber do que ela dizia. Cruzou os braços e ali ficou... a sorrir... a olhar para ela... e à espera de algo que seria só seu. Até podia ser só uma frase... ela nem precisava de o identificar ou citar o seu nome. Qualquer coisa seria suficiente para ele.
E ela percebeu que não se safava assim tão facilmente... alguma coisa tinha de escrever. Mas sabia que lhe ia custar. Não podia escrever tudo o que pensava dele... mas também não queria escrever nada que não sentisse...
Pegou em papel e caneta... olhou-o no olhos... e começou a escrever.
Entre sorrisos e trocas de olhar, ela la foi escrevendo... e ele ficou intrigado a cada palavra que ela escrevia. Esticou-se para tentar ler... mas ela não deixou. "Só no fim, que é para não teres ideias destas!"- disse-lhe ela, com um sorriso envergonhado.
Se ele soubesse o que aquele texto tinha dela... o que ela estava a passar para aquelas palavras... o quanto ela se estava a expor ao escrever aquilo...!
O pior (ou melhor!) é que ele sabia... e por isso lhe tinha feito tal pedido. Queria que ela lhe confirmasse que sentia por ele o que ele também sentia por ela. E sabia que só assim ia conseguir que ela o fizesse... quase em jeito de anonimato.
E ela escreveu... e escreveu... e escreveu. Um texto fluido... sem pausas para pensar... como se a caneta tivesse vida própria. Não deixou nem um pormenor esquecido. Desde o brilho dos olhos dele ao calor do seu sorriso... da segurança que os seus abraços lhe davam ao quanto o seu dia ganhava vida só de receber uma mensagem dele... só de ouvir a sua voz. Corou vezes sem conta ao reler o que ia escrevendo... mas não apagou nada. Não queria que o descrevesse? Pois aí tinha! Sem medo do que isso poderia originar,
Até que mais nada tinha para escrever... até que já só uma palavra lhe morava no pensamento. E aí ela parou... aliviada... ansiosa por ver a reacção dele... mas sempre com a única palavra que não escreveu (nem podia!) em mente. Deu-lhe o texto e esperou.
Ele começou a ler e, a cada palavra... a cada frase, o seu sorriso aumentava. Sentiu-se vitorioso... sentiu-se feliz... sentiu-se amado.
No final, não lhe conseguiu dizer nada. Deu-lhe um beijo na testa... outro no rosto... olhou-a nos olhos... e deu-lhe um meigo e doce beijo nos lábios.
E sorriram. Porque estavam felizes... porque se amavam... porque tinham dito tudo quase sem proferir uma palavra... a não ser a única que ficou por escrever... "amo-te".
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