Carta à Cinderela de outrora...

(Há muito que não vinha aqui... talvez por sentir a Cinderela a desvanecer-se em mim... e, por isso, peço desculpa)

Querida Cinderela,

Tenho saudades tuas.

Tenho saudades de quando me fazias sonhar 

e ver o mundo cor de rosa...

Tenho saudades de como me fazias acreditar no amor...

Tenho saudades de como me fazias feliz.

Sabes... o mundo,

na verdade,

é um lugar tão sombrio.

E pessoas como nós são abusadas.

Não, não é nesse sentido...

é que as pessoas aproveitam-se de nós...

do nosso bom coração...

da nossa empatia...

da nossa vontade de ajudar os outros.

E depois é com cada desilusão...

com cada cabeçada...

E dói... dói muito.

O Mundo que sempre sonhámos...

onde todas as pessoas tinham bondade em si...

não passa de uma utopia.

Já não há "e viveram felizes para sempre".

O Amor tornou-se descartável.

Aqui entre nós...

Eu acho que as pessoas se esqueceram 

de como é Amar...

Eu tentei, Cinderela...

eu juro que tentei...

mas nunca recebia de volta o Amor que espalhei. 

Talvez tenha de ser mesmo assim...

Talvez o futuro seja mesmo assim...

cinzento...

e sem Amor.

No meu Mundo...

Detesto ter de voltar à realidade depois de ter estado algum tempo no "meu mundo". Ter de voltar a rotinas impostas, a enfrentar dilemas, a lidar com o resto do Mundo.

Assusta-me, cada vez mais, ter de avançar sem saber o que vem a seguir. Custa-me calar quando quero e preciso de falar... mas sei que não o devo fazer! Ou melhor... não posso. Não quando não sei a dimensão do estrago que isso pode causar! Dá-me medo as perdas que isso possa originar... sonhos, amizades, amores, esperanças...

Eu sei... o medo não é real. Mas eu não consigo deixar de me sentir assim... apavorada por ter de voltar à realidade. Queria tanto ficar no meu mundinho... onde consigo controlar (quase) tudo... onde sinto que tenho uma rede de segurança sempre lá, pronta para me apanhar a cada queda... onde (quase) tudo é perfeito... onde os sonhos são cor de rosa, a felicidade se esconde nas pequeninas coisas e o Amor verdadeiro existe. 

Oh realidade cruel! Porque assustas tanto que chega a doer? Porque trazes tanta insegurança e incertezas contigo? Eu só queria (sobre)viver descansada... sem estar sempre a pensar no pior. Eu só quero (sobre)viver em paz... no meu mundinho. Apenas e só...

Desligar o cérebro...

Às vezes gostava de conseguir desligar o cérebro. Ou então de conseguir passar para o papel os 20 separadores com 20 assuntos diferentes que ele teima em ter abertos, sem me deixar fechar um único.
É tanta coisa incompleta... tanto tema e inspiração... que dava quase para escrever um livro! Mas não consigo. As ideias sobrepõem-se, as palavras atropelam-se-me no pensamento.. acaba tudo misturado. E eu acabo baralhada... e frustrada por não conseguir concluir um único texto... por não conseguir fechar um dos separadores.
Se ao menos conseguisse escrever à velocidade que penso... nem que fosse só por tópicos! Mas não consigo... e é desgastante. Os pensamentos tornam-se repetitivos, ecoando vezes sem conta na mente, mas sem chegarem a um termo. Algumas palavras perdem-se no meio da confusão... e outras surgem, que mudam todo o sentido dos textos. Aos poucos, em vez de 20 separadores, tenho apenas um... que é todo um emaranhado dos 20 iniciais.
Confusos? Então agora tentem viver 5 minutos na minha cabeça... e vão ver o que é, realmente, confusão. 

Amor para a vida toda...

Quem nunca sonhou com um amor para a vida toda? Com um amor de conto de fadas? Eu já... aliás, ainda hoje sonho com isso. Mas depois a realidade atinge-me... qual comboio desgovernado... e percebo que tal nunca irá acontecer. 
Já não há amores para a vida toda. Hoje em dia, até o amor se tornou descartável... como se de uma máscara se tratasse... "reutilizável 5 vezes".
Vivemos em tempo de pandemia... onde o vírus se espalha ao vento, mas o amor se fecha a sete chaves.
Daqui por uns anos, já não teremos vírus no ar... mas seremos tão frios que também já não haverá amor para espalhar.
E amores para toda a vida... amores de contos de fadas serão apenas histórias de criança... apenas imaginação...

Amor sem concorrência...

"Quem não dá assistência, perde para a concorrência."
Errado. Quando o amor é verdadeiro, não há concorrência. É só aquela pessoa que importa... é só ela que nos faz sentir bem... como se o Mundo parasse quando estamos com ela.
O medo de a perdermos é tanto, que nem sequer reparamos no que nos rodeia. Se há melhor ou pior... só aquela pessoa é perfeita... só ela encaixa em nós. 
Por isso, essa coisa de concorrência... se existir... é porque o amor não é verdadeiro... é algo fraco e mixuruca. E não vale a pena lutar por amores fracos. É deixar ir... e que a concorrência lhe faça bom proveito. 
Quem sabe se não estará até a fazer-nos um favor? Talvez esse amor estivesse a impedir a chegada de algo maior... um amor verdadeiro entre corações e almas gémeas.

Silenciando a escrita...

Há dias em que só queres escrever.
Deitar cá para fora
Tudo o que te vai na alma.
Mas para isso tens de mexer em feridas...
e sabes que vai doer muito.
Mas e se essa escrita aliviar a dor?
Ou até mesmo, se a curar?
Acho que prefiro não descobrir...
Prefiro mesmo não arriscar.
Deixar as feridas sararem com o tempo...
E ter esperança de não sufocar
com as palavras que não escrevi.
Ficam um segredo só meu...
As palavras...
As feridas...
A dor...
O Amor.

Não quero dormir...

Não quero dormir, porque sei que vou sonhar contigo. Mas o corpo implora por descanso...
E a luta para manter os olhos abertos é cada vez maior.
A escuridão também não ajuda... mas a claridade fere-me a alma. O escuro... aconchega-a.
Se pudesse escolher os sonhos, seria tão mais fácil. O corpo descansava... a mente acalmava... e esta dor silenciosa aliviava. Há quem lhe chame saudade. Eu não sei o que é... só sei que dói e que estilhaça um pouquinho de mim a cada dia que passa.
Eu não quero dormir, mas preciso tanto!
Tanto... como preciso do teu abraço...